Raid do Tomate - dia 1

No final de segunda-feira, depois de ter vivido a experiência da Maratona de Mafra e de ter desistido de participar na Subida à Glória, percebi o que realmente me apetecia fazer no fim-de-semana que se avizinhava.

Apetecia-me sair de casa e pedalar para um lado qualquer e só regressar, a pedalar também, no dia seguinte. Queria sair de Lisboa, queria desafiar-me e queria passar um fim-de-semana com o Fred a fazer algo que gostamos muito. Por isso lancei-lhe o desafio: arranja lá um sítio para irmos a pedalar e só voltamos no dia seguinte. E ele arranjou. Escolhido o destino - visitar os primos de Abrantes - em poucos dias cozinhou um track de ida e volta em BTT que iam garantidamente dar trabalho às pernas e à cabeça.

Dia 1 - Lisboa - Alferrarede (Abrantes)


Queríamos sair de casa pelas 7 horas mas acabámos a sair apenas pelas 8. Duas bikes, duas mochilas, três bidons de água e duas pessoas extremamente motivadas a passar o dia que agora começava pedalando por trilhos que desconheciam na sua maioria, com todos os riscos que isso acarreta.

Mas as palavras-chave do dia eram aventura e boa-disposição e carambas... foi mesmo algo que nunca faltou e quando o vídeo ficar pronto, acho que vão ficar com uma ideia!


Tentámos tirar a foto que marcaria o início da aventura nos trilhos junto do Trancão pouco depois de Sacavém mas tivemos de desistir porque fomos literalmente atacados por mosquitos. Foi de tal forma que nos andámo a coçar durante dias a fio! Nõ conseguimos a foto, mas ganhámos marcas para a posteridade. Ficou assim registado o início da aventura na primeira marcação dos caminhos de Fátima onde há poucos meses tinha tirado uma fotografia idêntica na minha ida a Fátima com os Passatempo BikeTeam BTT.


Foi por volta dos 60km que fizemos a nossa primeira pausa gastronómica na Padaria do Arneiro, em Salvaterra de Magos, onde comemos uma tarde de amêndoa divinal feita pela D.Lúcia! Quem passar por estas bandas, faça o desvio que vale mesmo a pena!


 E é claro que não podiam faltar as parvoíces para descomprimir :p


Na zona todos têm bicicletas dos mais variados tamanhos e feitios e nós claro, não perdemos uma hipótese de galhofa.


O tempo estava mesmo ao nosso gosto, os trilhos eram bons e eu já conhecia esta parte do caminho da minha ida à Fátima por BTT. Há um single do qual gosto muito, em que seguimos ao longo de um canal de água à sombra de grandes árvores. E este bocadinho de frescura que depois de alguns (muitos) quilómetros em estradão trepidante à tosta do sol sabe que nem gingas. Foi aqui que nos cruzámos pela primeira e única vez no dia com alguém a pedalar.


Pouco mais de 10km depois já estávamos em Muge e embora não houvesse ainda muita fome era aqui que faríamos a nossa paragem para almoço. Eis que nos esperavam as famosas bifanas do Silas. Ah que regalo para o estômago.



Seguimos agora já com o sol a queimar mais a pele coisa que nem eu nem o Fred aguentamos muito bem, mas assim que voltámos aos trilhos não sei o que nos deu mas desatamos a pedalar a um ritmo bem puxado. Mesmo o terreno sendo arenoso e nada fácil de percorrer, parecia que nos tinham ligado à corrente, pelo que lá íamos nós a pedalar e a cantar (mais eu confesso) ao ritmo da batida que ecoava do meu bolso de trás. O raio das bifanas são mesmo poderosas...

Só voltámos a parar numa das primeiras sombras que apanhámos já depois de algumas subidas bem puxadas para hidratar, comer uma das nossas barritas caseiras e nos prepararmos para as subidas que nos esperavam.


Foi perto dos 90km, já na zona de Santarém, que tivemos o nosso primeiro encontro com um caminho sem saída. Entrámos por um trilho junto de uma plantação de tomates e quando demos por ela estavamos literalmente a pedalar sobre os ditos para algum espanto de quem andava a trabalhar na apanha.


Ainda fizemos o campo todo na esperança que o trilho continuasse no seu final, mas afinal não existia mais trilho nenhum. Toca a voltar para trás, não sem antes fazermos uma pausa técnica para a famosa coçadela do tomate!


O terreno a partir daí começou a piorar ainda mais e foram quilómetros a fio feitos em trilhos de pedra e areão solto sem avistarmos uma única casa ou pessoa, Primeiro, atravessámos uma mata enorme de pinheiros, depois plantações de sobreiros a perder de vista e a seguir a estas, plantações de oliveiras. Tudo isto sempre sozinhos e com um GPS a insistir que estavamos numa estrada de alcatrão. Pois...


Conseguimos reabastecer de água em Alpiarça, depois de contornar o Campo Militar de Santa Margarida mas estávamos a levar uma verdadeira coça. Muito sol, piso terrível de transpor e massacrante quer para o rabo quer para as mãos. No fundo no fundo, acho que todos os ossinhos do corpo se começavam a ressentir do tratamento que estavamos a levar.

No entanto, nem um nem outro conseguia reclamar muito porque tudo à nossa volta era lindo.


O problema começou quando a água voltou a escassear. Fontes era mentira, não se via vivalma e o GPS continuava sem indicar qualquer tipo de povoação por perto. O Fred, bem mais batido que eu nestas coisas mantia a sua pose mais controlada, eu no entanto já mostrava estar pouco confortável com o não saber quando iríamos encontrar algum sítio para abastecer e com a incerteza de quando acabaria o malvado estradão por onde seguíamos.

Quando finalmente vemos ao fundo alcatrão nem imaginam a alegria que foi! Seria apenas para o atravessar e entrar novamente num estradão igual ao primeiro mas ao ver casas ao fundo, sigo direita à povoação pela estarada a todo o vapor e a ouvir o Fred a gritar qualquer coisa lá atrás mas nem lhe ligo nenhuma. O que eu queria mesmo era um café e lá encontrámos uma tasca na outra ponta de Semideira, aldeia que caiu do céu e que se veio a revelar ser a única em mais de 60km de pó e pedra. Muita pedra!


Depois de regressarmos ao trilho, com quase 150km feitos, sem vermos fim ao isolamento da civilização e com a água a querer acabar novamente, decidimos procurar a estrada mais próxima e embicar direitos a ela. 

Tínhamos o corpo a suplicar por um piso mais meigo e assim que pisámos alcatrão, o sentimento foi de alívio. Restavam pouco mais de 20km até ao destino os quais  foram feitos com poucas conversas e contra um dispensável vento ligeiro que nem desmoralizava tal era a vontade que tínhamos de dar o dia como terminado.

Metros antes do nosso destino, somos apanhámos pelo nosso anfitrião acabado de cumprir uma missão ultra-secreta e muitíssimo perigosa: comprar arroz! Foi com sucesso que ele a concluíu e entrou em casa vitorioso com um quilo de arroz e dois convivas encardidos e sedentos de Sauvignon blanc fresquinho.


Depois do duche recuperador seguiu-se um jantar de luxo quer pela comida, quer pelo vinho, mas principalmente pela companhia.


Obrigada Tiago e Susana pela forma que nos receberam assim do "nada". Acho que acabámos por arranjar forma que o nosso primeiro encontro (meu e vosso naturalmente, que o Fred já aturam há uns aninhos ehehehe) fosse memorável. E desculpem se a partir do segundo copo de Duorum, os olhos já tinham dificuldade em manter-se abertos... diz que estávamos cansaditos!


Ficha Técnica (dados do Strava):

Distância: 168,6km
Tempo de movimento: 9h07
Tempo decorrido: 11h58
Elevação: 580m
Vel. média: 18,5km/h
Vel. máxima: 47,2km/h


Ver no Strava: Raid do Tomate 1º dia

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