Chegou finalmente o dia de uma prova bem aguardada que prometia pela organização e pelo sítio onde decorria. Lancei-me assim à aventura de participar pela segunda vez numa prova de 80km, desta vez com a consciência de que a iria fazer sozinha e que seria esse o meu principal desafio. Encarei esta prova como um treino das áreas em que tenho plena consciência de ser ainda muito tenrinha:
·
Pedalar/competir sozinha;
·
pedalar com o modo competição ativado;
·
gestão de esforço e (principalmente) de cabeça;
A minha
preparação para a prova em si foi simples. Apenas levei a minha 15kg ao SPA do Bruno Aguiar para me rebaixar o guiador e
com isso, tentar melhorar a postura e conseguir ganhar alguma potência na
pedalada, especialmente nas subidas. Não é definitivamente algo que seja
recomendável de se fazer no dia antes de uma prova assim, mas olha, foi quando
deu e acabou por correr bem e ajudou-me bastante quer nas subidas, quer nas
descidas.
Chegámos
cedo a Mafra e confesso que com a logística envolvida estava com medo que isso
não fosse possível. Afinal sempre éramos 4 pessoas – duas delas crianças em
horário de férias logo a deitarem-se tarde e a acordarem mais tarde ainda, um
cão e muita tralha! Era verdadeiramente um carro cheio!
Depois
de lá estarmos pouco demorou a reconhecer caras amigas. Sabe sempre bem, e, neste
caso em que estava a pedalar sozinha, soube ainda melhor ir reencontrando esta
malta ao longo da prova e ouvir-lhes palavras de incentivo.
Na
hora da partida estava literalmente no meio daquele mar de gente que respondeu
ao desafio do MafraBTT. O arranque ao toque do sino foi tranquilo e a passagem
na Tapada de Mafra ajudou a espalhar o pessoal. Eu aproveitei esta fase para me
habituar à nova posição de condução e para me tentar esquivar aos aglomerados
porque sabia que entraríamos pouco depois no primeiro singletrack do dia: o
trilho do arquiteto ou do sr. Heitor.
Ainda
dentro da Tapada, passei a Rita na primeira subida e quando, já de volta ao
alcatrão, passei pela primeira vez pelos meus filhos e o Fred, ele gritou-me
que ia em segundo a poucos minutos da Mena. Sabia que isso não queria dizer
nada, especialmente naquela fase da prova, mas até serviu para motivar por isso
tratei de puxar por mim o que podia, embora nas primeiras descidas mais
técnicas tenha refreado um pouco o andamento para me habituar ao meu novo
centro de equilíbrio que tinha mudado e não tinha sido pouco.
Consegui
manter um ritmo fluído sem muita gente ao pé, mas acabei por ter de parar por
engarrafamento nas primeiras rampas mais técnicas em singletrack porque acabei
por apanhar um grupo que desmontava e fazia à mão. Se o meu chip de competição
estivesse bem configurado deveria ter tratado de pedir para passar, mas o meu
chip de passeio ainda está demasiado ativo e limitei-me a esperar.
É por
volta do km 12 que surge a primeira subida dura, mas desta até gostei. O
terreno não era complicado, vinha fresca o suficiente para a fazer em bom
ritmo, e sabia que como brinde ia ter a família à espera no final. Passar por
eles e tê-los a apoiarem-me, o meu filho a dar-me um Hi5 e a correr ao meu lado
o final da subida, são sensações que não se esquecem nem têm preço. O Fred
diz-me que continuo perto da Mena e fico satisfeita. Primeiro porque
significava que estava a conseguir aguentar-me e segundo porque provava que estava
a puxar realmente por mim, pois só assim podia almejar manter-me “na roda” dela
mesmo que à distância.
Quando
voltei a entrar no mato, voltei a apanhar um grupo e segui com eles uns kms o
que me valeu uma saída de rota por causa do engano do que ia à frente. Entre o
engano e algumas paragens forçadas em subidas mais técnicas em que os da frente
desmontavam. A certa altura acabei mesmo por fazer uma ultrapassagem assim meio
forçada numa subida mas, como o karma é lixado, logo na primeira rampa que se
seguiu à ultrapassagem fui eu que parei o grupo por ter escorregado na areia.
Ora toma que já almoçaste! A verdade é que à conta disto acabei a me cansar
mais e de perder a vantagem que levava da Rita.
Aparece
então a uma das muitas subidas de areão solto e com o sol já no seu esplendor
de verão, tive o meu primeiro encontro com a maior dificuldade (para mim) desta
prova: sol e subidas com areão. A asma deu logo de sinais de vida e, para não
variar, foi essa “falta-de-ar” que me empenou o suficiente para que no final de
uma das subidas que se seguiram ter de encostar à primeira sombra e fazer uma pausa
para recuperar a respiração. Sabia que durante mais uns kms teria mais umas
subidas pela frente pelo que aproveitei e tomei um gel. Mais que não fosse sempre
tinha aquele efeito placebo de me recarregar baterias. Foi justamente nesta
pausa, que a Rita e o seu grupo me alcançaram e passaram.
Quando
voltei a encaixar os cleats, tinha a moral renovada e estava pronta a puxar por
mim o que podia e sabia e foi isso que fiz até ao segundo abastecimento onde os
tinha novamente à minha espera. Não estava a contar parar porque tinha acabado
de encher o bidon num dos vários pontos de água que existiram sempre ao longo
da prova, mas ao ver que quem me esperava com a garrafa de água era a minha
filha, nem sequer hesitei. Parei, e conversei um pouco com eles enquanto alguém
se prontificou a por um pouco de óleo na corrente que estava bem seca de tanta
areia. Nesta altura fiquei a saber que a Mena já levava um avanço considerável
e que ainda ia bem perto da Rita.
Voltei
a arrancar decidida a continuar a fazer o melhor que sabia, mas o calor começou
a apertar e o meu ritmo baixou consideravelmente. Parei para encher o bidon em todos
os pontos de água, sempre com um sorriso à minha espera por parte do pessoal da
organização e essas paragens apenas serviram para ir aumentando a distância que
levava das minhas “adversárias” em prova..
Chegada
à praia de São Julião, ia acontecendo um azar que me punha logo fora de prova e
até dos passeios durante uns tempos. No final da primeira subida em asfalto, fiquei
atrás de um carro que ia seguia devagar. Como calculei que ele andasse à
procura de lugar deixei-me ir com alguma distância não fosse virar de repente, mas
o que não esperava é que ele travasse de repente e fizesse marcha atrás! Foi
por pouco que me consegui desviar e passar rente ao mesmo! Confesso que me
apeteceu gritar-lhe uns quantos impropérios mas saiu-me apenas um “tenha
cuidado!” ao mesmo tempo que me reequilibrava na bike e o ultrapassava pela
direita.
Enfim…
sustos desnecessários.
Seguiram-se
as arribas e mais uns trilhos bem ao meu gosto. Técnicos e sinuosos. Mais uma
vez agradeci mentalmente o que tenho aprendido com a minha malta ATX. Posso
dizer que fiz sem dificuldade todas as descidas da prova e sempre a curtir
buéeeee e muitas vezes com uma velocidade bem acima do que faço habitualmente!
Cada uma delas revitalizava-me e punha-me a pedalar mais depressa.
Chegam
depois longas e duras subidas durante alguns quilómetros até que numa certa
paragem me gritam que se seguem 5km de descidas. Os meus olhinhos até
brilharam! Mas, não sei se pela velocidade a que ia ou se por estar tão farta
de subidas, os tais 5kms souberam-me a muito menos e pouco depois estava de
volta às subidas exigentes. Por esta altura, parecia-me literalmente que não
tinha feito mais nada senão subir. Sabia que não era verdade, mas a dureza
destas subidas de areão com o sol a torrar-me, começavam a abrandar-me e a
fazer-me perder o foco. Pena foi ter saltado o bidão duas vezes de seguida numas
descidas de estradão que tive pelo meio - quando o gajo até se tinha aguentado
ao cemitério dos bidões (algures no trilho do arquiteto) - que me obrigaram a ter
de subir o que tinha acabado de descer, para o ir buscar.
Ao
terceiro abastecimento, e à conta da minha quebra de ritmo e paragens, já
levava uma distância maior da Rita e a cabeça que me começava a pregar-me
partidas, mas começou literalmente a dar que fazer quando alguém do último abastecimento
me jura a pés juntos que o percurso tinha mesmo os 80km em vez dos 76km com que
todos estavam a contar.
Saí
dali a pensar onde estariam os 4km a mais... Estariam nas subidas que ainda me
esperavam? Ou no final em supostamente seria sempre a descer? Senti-me perdida
e, sem ninguém para partilhar as minhas dúvidas, na verdadeira parede que se seguiu
ao abastecimento, o meu chip de competição começou a fazer mau contacto.
Para
quê continuar a puxar por mim (sofrer nas subidas) se o terceiro lugar estava
garantido? A menos que tivesse um azar, já seguia há muito tempo isolada logo a
vantagem que levava sobre qualquer rapariga que pudesse estar para trás era
mais que suficiente. Dificilmente iria apanhar a Rita, muito menos a Mena. Logo,
para quê continuar a pisar o pedal quando posso ir mais calma e ganhar o mesmo?
Com todas estas dúvidas a toldarem-me o pensamento, somado ao calor e à parede
que estava a subir, fizeram-me desmontar o que faltava da subida e acabá-la a
pé. Quando cheguei ao cimo, depois de acertar a respiração, dei-me um abanão
virtual e disse para mim mesma: senta esse rabo em cima do selim e continua a
pedalar como deve ser porque foi isso que aqui vieste fazer!
Arranquei
a pedalar com a genica que lá desencantei e passado pouco tempo volto a ver
alguém à minha frente que transformo em lebre e pimbas, enquanto não o passei
não aliviei o pedal. Afinal de contas, as pernas nunca me chegaram realmente a
doer durante toda a prova pelo que se as tinha era para usar.
Daí
até ao final foi sempre a pedalar o mais que pude e quando soube que estava a
3km da meta e percebi que afinal sempre eram os tais 76km com que sempre tinha
contado, oh meus amigos... até ganhei asas!
Daí
até à meta foi em modo non-stop. Passei vários participantes bem cansados a quem
tentei puxar pela moral, mas na verdade a única coisa em que pensava era em
pedalar o mais que conseguisse.
Quando
saio da área militar e vejo a meta à minha frente senti-me excitada por ter
conseguido cumprir com o que me tinha proposto. Mesmo antes da meta tinha os
meus colegas de equipa e ainda parei ao pé deles antes de cruzar oficialmente a
dita. E quando parei para registarem a minha chegada só tinha olhos para os
meus filhos e para o sorriso parvo que o Fred tinha na cara ao mesmo tempo que
tentava segurar o Ty e tirar-me fotos.
Para
mim, que levei esta prova como uma competição contra as minhas limitações e um
treino para o que eu pretendo vir a fazer, considero que foi uma prova mais que
superada e considero que o terceiro lugar me assentou como uma luva. Não
precisava de pódio, mas ao mesmo tempo, acabou por ser uma validação do esforço
que fiz.
Resumidamente,
foi uma excelente prova embora as descidas tenha de confessar que me souberam a
pouco. Havia muitos pontos de água o que deu muito jeito com o calor que se
sentia mas podiam estar mais coordenados com os pontos de controle, pois em
alguns casos estavam separados apenas por alguns metros. Os trilhos estavam bem
marcados (embora tenha sentido a falta de fitas em algumas zonas por ser tão
despistada e estar a rolar sozinha, mas sempre que as dúvidas surgiam, mais
metro menos metro depois haveria de aparecer uma nova marca) e senti-me segura
em todas as passagens em estrada controladas por alguém da organização.
Obrigada a todos os que me proporcionaram esta manhã de luxo! Ao MafraBTT pela organização desta prova que tem potencial para ainda ser muito mais, ao André Pimenta pelo incentivo e por todas as dicas que deu para a escolha dos sítios para me verem passar, ao Fred por ter abdicado de participar e proporcionar-me esta experiência de vos ter a acompanhar, à minha equipa pela qual visto estas cores com muito orgulho e ao Bruno Aguiar da ATXCyclingStore por me kitar a bike em tempo recorde mais uma vez.
Parabéns
Mena pela prova fantástica e postura. Parabéns à Magda, à Carlota e à Paula
pelo pódio nos 45km. E obrigada a todos nós pela paciência que tivemos de ter de
esperar pela entrega de prémios por causa de uma única atleta que foi tomar
banho para vir receber o prémio e acabou por não voltar a aparecer.
Ficha Técnica (dados do Strava)
Distância:
76,2km
Elevação: 1995m
Elevação: 1995m
Tempo
em movimento: 4h52
Tempo
oficial: 5h08
Vel. média: 15,7km/hVel. máxima: 60,5km/h
Classificação
3º lugar feminino nos 80km
Ver no Strava: Maratona Mafra80
Para lerem a versão de quem esteve do lado de lá sigam o link: Maratona BTT Mafra80 por O Limpaneves
Ver no Strava: Maratona Mafra80
Para lerem a versão de quem esteve do lado de lá sigam o link: Maratona BTT Mafra80 por O Limpaneves
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